terça-feira, 28 de abril de 2009

Vendedor de palavras.

Meu bom freguês, que bom vê-lo aqui!

Acredito que esteja buscando aquele de sempre, né?
Ah, claro... Entendo sim. Um produto mais forte.
Algo criativo, repleto de palavras bacanas e com mensagens cheias de entusiasmo e romance. Verei se tem algo desse tipo aqui.
Desculpe, mas o produto solicitado está em falta no estoque. Até algum tempo atrás eu tinha caixas e caixas guardadas aqui, mas em um surto de tempo sumiram todas.
Lastimo muito decepcioná-lo, mas acredito que a distribuidora tenha falido.
Oh, sim... Obrigado pela preferência.
Caseiro? Claro, claro. Cheguei a cogitar a possibilidade de produzir algo em casa, mas não poderia colocar em risco a vida das pessoas vendendo produtos de baixa qualidade.

- Não, não... É fórmula única. Não possui genérico.

- Sim, claro... Posso olhar pra você. É, desculpe. Mas também não temos desse.

- Bem, temos desse sim. Mas ele pode causar efeitos colaterais como dores de cabeça, crise de choro e reflexão profunda.

- Não, esse não tem muito conteúdo.

- É, temos este, mas é efeito placebo... Só funciona quando você se convence de que é bom.

- Ah, claro. Posso pegar sim, mas tome cuidado com este, hein? No máximo uma dose por dia!

Reavaliei o estoque por dias e dias, liguei pra vários os revendedores, li anúncios de jornal, revistas de fofoca, livros infantis, bulas de remédios velhos, embalagem de detergente. Nada novo...

Mas espera! Não vai assim, de mãos vazias. Leva este aqui, é cortesia da casa:

(E no pedaço de papel que fora entregue, haviam algumas palavras, que diziam assim:
"Quando mudamos nossos olhos de ver o mundo, o mundo muda pra gente
O desbotado ganha cor, e o que é velho se renova
A flor murcha fecha-se em jovem botão
E o fim da história parece um grande mistério a ser desvendado
Tudo quando muda o mundo, muda tudo quando o mundo
Nos parece diferente.
O passado vira presente, e o futuro...
Ah, deixa o futuro pra depois")

E o vendedor de palavras voltou às prateleiras novamente.

quarta-feira, 18 de março de 2009

(07) Re-começo

A melodia sussurrada de Joanna cessou-se quase instantaneamente ao vê-lo. O rapaz virou-se, fitando-a com um olhar melancólico e opaco. Aquele momento parecia um tanto surreal para a garota. Os claros olhos azuis do qual tanta saudade sentira agora petrificavam-na pouco a pouco... O rosto marcado, as roupas rasgadas, o corpo de homem, a cabeça raspada, os papéis em seu colo.
O jovem levantou-se, deixando todos aqueles papéis espalhados sobre o sofá. Em duros passos firmes ele alcançou Joanna. E ela sequer podia se mexer... Ele a olhou de bem perto, seu olhar apresentava um misto de dor e tristeza. Naquele momento o mundo pareceu parar diante da eternidade que duraram aqueles segundos. E os braços se entrelaçaram, apertando bem forte. Lágrimas e suspiros misturavam-se vagarosamente aos sentimentos que eram trocados naquele abraço. Não foi preciso dizer nada. As mãos duras e calejadas dele sobre as costas dela, as mãos macias dela afagando-lhe a cabeça. E ambos choraram... E milhões de pensamentos daqueles anos todos escorreram devagar entre eles.
Os pensamentos de Joanna, que muito demoraram pra entrar em ordem, agora bagunçavam-se novamente... Como uma prateleira de livros que tomba, misturando todos os conhecimentos, sem qualquer ordem, sem qualquer objetivo.
Depois do primeiro contato, sentaram e conversaram por horas. Joanna contou a Richard sobre os principais eventos ocorridos nesses anos todos, e fez muitas perguntas também. Ele explicou a ela sobre os sofrimentos todos daquela Guerra, e sobre a peste que levou seu pai à morte. Falou também sobre um amigo feito lá, que morrera para salvá-lo durante uma invasão inimiga à Divisão. E assim continuaram conversando até a chegada de Hill ao apartamento.
Depois de apresentados, Joanna preparou o jantar e todos sentaram-se pra comer. Era notório o modo como a guerra influenciara nos modos de Rich. Sua irmã o observava com delicadeza, mas, por hora, assustava-se com alguma feição ou palavra que lhe parecia estranha. Após o jantar, sentaram-se na sala para ouvir Joanna tocar brilhantemente seu trompete. E os olhos de Richard mais uma vez choraram, vendo a mulher incrível que sua irmã havia se tornado... E naquele instante, em que a suava melodia inundava o ambiente ele se lembrou de sua infância, e dos poucos momentos que tivera com Joanna. As traquinagens de criança, o passeio no parque aos sábados, brincar com a neve no inverno. Momentos que violentamente viraram lembranças, a trajetória da sua vida, as amarguras da vida de Joanna, a morte de seus pais, as cartas que não chegavam...

- Joanna! – Berrou Richard subitamente, interrompendo a música- As cartas! Perdoe-me pelas cartas. Elas não chegavam a nós. Somente fui ter ciência quando me foi permitido o regresso. Me perdoa Joanna, eu não estava aqui quando você precisou de mim. Eu não estava aqui pra te ver mudar, pra te proteger. Eu prometi que cuidaria do papai, e eu o perdi. Eu não estava do seu lado... Quando você chorava, quando precisou cuidar da mamãe, quando arrumou trabalho. Eu não soube... Eu não... pude.

A cabeça de Joanna rodava mais uma vez... Ela conhecia aquela sensação. Quantas vezes sentira aquilo em toda sua vida? Seu corpo inteiro tremia, e as lágrimas brilhavam no seu rosto, igual ao trompete em suas mãos. Seus olhos fitaram os papéis sobre o sofá... Reconhecera sua própria letra. Por quantas vezes aquelas cartas não foram seu único refúgio? Ela não conseguia aceitar que todas aquelas palavras chegaram frias ao seu irmão. E entre tantos sentimentos, quantas foram escritas com tanto carinho e dedicação, outrora com tanto medo e saudade? Mas, porque? Porque tinha que ser daquele jeito? E por um instante Joanna fechou os olhos, e chorou. Os braços fortes de seu irmão mais uma vez a abraçara. E uma chama dentro dela se acendeu. Sentiu-se segura, protegida...

- Richard... Não há porque você se desculpar, meu irmão. Você, assim como eu, é apenas vítima. Vítimas Rich, vítimas da vida. Mas, saiba... Você sempre esteve aqui, em meu coração. E foi a certeza de reencontrar-te que me fez chegar até aqui. Não há mais porque sofrer, irmão. Estamos juntos novamente, e isso é o que importa. Por mais que o tempo passe, eu continuarei a te amar, da mesma forma, com a mesma intensidade. Você é parte de mim Richard, uma parte que eu nunca vou esquecer. E como parte de mim, é meu dever cuidar de você... Porque cuidar de você é cuidar de mim também. Eu te amo, irmão. E sempre amarei.

Durante alguns minutos tudo que se ouviu foi o som das lágrimas e das respirações ofegantes. E aquele abraço poderia durar pra sempre sem que nada mais precisasse ser dito, mas não foi isso que aconteceu. Surgiu de repente, por todos os cantos, um som repleto de vida. Uma melodia firme, que ecoava gentilmente do sax de Hill, eternizando aquele momento.

E foi assim que recomeçou minha história naquela noite linda. Espero ter sido capaz de contar fielmente minha vida a vocês, obrigado por me escutarem.

Um beijo repleto de paz.

Joanna.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Capitulo anterior: http://loucurasredigidas.blogspot.com/2009/02/06-felicidade-silencio.html

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

(06) Felicidade-silêncio

- Um ano depois –

Joanna caminhou lentamente pelo estreito caminho e sentou-se na calçada, admirando o reflexo da luz solar em seu trompete amarelo-ouro. Uma brisa leve afagava-lhe os cabelos. E fechando os olhos docemente, tocou uma suave melodia. Perfeitamente harmônica, a música soou pelo ar, enquanto lágrimas leves escorriam pelo rosto da garota. E depois de ecoada a última nota, ela sorriu.

Abrindo os olhos devagar, pegou com carinho o ramalhete de flores em seu colo, e colocou aos pés da lápide de sua mãe. Levantando-se, Joanna caminhou firmemente, sem olhar pra trás nenhuma vez.

Apesar de tudo, não se sentia triste. A tempestade de sua vida passara, e seu namoro com o Hill estava fluindo perfeitamente. Ela o amava de todo o coração, ele também. A confiança entre os dois era algo realmente admirável para um casal de pessoas tão novas, e um se dedicava ao outro de peito aberto, como todo respeito e companheirismo que o amor deles merecia.

Joanna estava a alguns meses dos seus 18 anos, porém, atingir a maioridade perante a sociedade não era nada diante do equilíbrio emocional e da maturidade que ela havia conseguido com o passar dos anos. Havia se tornado agora gerente da livraria, que tornou-se um ponto freqüentadíssimo devido às suas apresentações com o Hill. Tornara-se também membra do Conjunto de Sopros da Divisão, um verdadeiro feito para alguém com essa idade.

Ela e Hill dividiam um pequeno apartamento, e a casa de Joanna agora era alugada pra uma família estrangeira por um valor bem razoável. A Sarah e o Tom agora namoravam, pra espanto de todos. Muitas coisas mudaram por ali.

Joanna dera prosseguimento aos estudos e em pouco tempo poderia tentar uma faculdade, ou um curso profissionalizante. Apesar de lá não haver nada sobre música ou letras, que eram suas áreas de maior afinidade e domínio.

A jovem caminhou lentamente pelas ruas até chegar ao prédio em que morava. Subiu as escadas sem pressa alguma, e até cantarolava algo baixinho. E dando alguns rodopios pelo corredor, parou em frente ao 201, foi entrando despreocupadamente. Porém, ao virar-se deparou com uma figura estranha sentada de costas no sofá, tinha a cabeça raspada e vestia uma roupa suja e rasgada. Joanna sentiu um aperto no peito, e o ambiente encheu-se de um frio sobrenatural a arrepiar-lhe a pele. Sentiu medo, como a muito não sentia.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Capítulo anterior:
http://loucurasredigidas.blogspot.com/2009/01/05-lagrima-despedida.html

sábado, 31 de janeiro de 2009

(05) Lágrima-despedida

Com o peito arfante, Joanna seguiu em direção a sua casa, correndo. As duras palavras do soldado ainda ecoavam em seus ouvidos, e a sensação de estar desprotegida era estarrecedora. Correndo a passos sensivelmente maiores que suas pernas, a garota invadiu sua rua e mirou sua casa. Sua mente gritava por socorro, queria sentir-se segura, queria abrigar-se do medo.

Com um golpe certeiro, Joanna abriu a porta de uma vez e a bateu com força. E em um giro lento encostou-se na parede, onde foi escorregando lentamente até tocar o chão. E enfim, chorou. Lágrimas grossas varriam-lhe a face, arrastando consigo o gosto amargo e salgado de desesperar-se.

A menina não soube estimar quanto tempo passara ali, sentada. E apesar de seu corpo apresentar naquele instante um peso descomunal, levantou-se e observou janela a fora. Seus olhos arregalaram-se, e seus ouvidos sensibilizaram-se diante do baque pesado que se espalhava pela rua. Os soldados marchavam, e berravam com ira, batendo os pés e as armas no chão.

Seu coração vibrou ainda mais forte e determinado do que na livraria. O estrondo repetitivo determinava o ritmo, tudo naquele lugar pulsava. Joanna correu ao quarto de sua mãe, mas notando seu repouso pôs-se em silêncio, girando a maçaneta levemente e fechando o quarto à chave.

Com doces e trêmulos passos, a garota sentou-se ao lado da cama de sua mãe. Encostou devagar sua cabeça no colchão macio. Aos poucos, sua mente foi voltando pro lugar, e a sensação de segurança aqueceu se coração. A simples presença de sua mãe a fazia iluminar-se por dentro. Sua mão foi vagarosamente ao encontro da face daquele ser bondoso ao seu lado. Tocou-a.

Naquele instante suas pupilas dilataram-se a ponto de esconder a íris, e o sangue parou em suas veias. Ela estava gelada, assustadoramente gelada, e úmida. Seus músculos não respondiam, seu corpo petrificara-se, por completo. Uma dor aguda instalara-se em sua cabeça. O quarto rodava rapidamente diante de seus olhos, e o ar faltava-lhe nos pulmões. Seu corpo pendeu para o lado e Joanna permaneceu no chão, desacordada.

- Minha filha – Disse a voz paciente de sua mãe – Você vai precisar ser forte. É chegado o tempo, meu anjo, de seguir para o sem fim. Orgulho-me muito de você Joanna, do seu caráter, da sua fibra, da sua força de vontade. Meu tesouro, tenho que partir. Estarei sempre com você, quero que se lembre disso. E se precisar me encontrar, procure dentro de você, estou aí, em seu coração. Adeus Joanna.
- Nãaaaaaaaaaaaaao – Berrou Joanna em um grito rasgado. – Pelo amor de Deus mãe, nãaaaaao. Você é tudo que tenho. Não me deixa. Por Deus mãe, não me deixa.

O choro ininterrupto da garota abafou seus lamentos... Sua voz não se atrevia a dizer nada. Joanna era só escuridão por dentro. Agora, definitivamente estava só. Onde estariam seu pai e o Richard? Porque tanto sofrimento, porque tinha que ser assim? Seria tudo aquilo um pesadelo? Se o fosse, havia passado da hora de acordar.

A menina dos olhos castanho médio encontrava-se dilacerada ao lado do leito de sua mãe. A pele pálida, o olhar distante, a pulsação fraca. Adormecera ali. Rodeada por suas dores e prantos. Tocou novamente o corpo gélido de sua mãe na esperança de encontrar alguma fagulha de vida que lhe reacendesse a esperança.

Joanna ouviu batidas na porta da sala. Imaginou ser o soldado de outrora, mas dada a situação em que se encontrava, não havia mais nada que pudesse perder. A garota seguiu até a porta com um andar rastejante e fraco, e nem se quer se deu o trabalho de perguntar quem era. Em um movimento suave e cansado, abriu a porta.

Pela primeira vez naquele dia sentiu seu coração bater por algo que realmente a fazia feliz, era Hill, com seu típico ar de preocupação. E antes que ele pudesse perguntar alguma coisa, ela o abraçou. E encostando-se em seu peito, chorou. Um choro abafado, silencioso. Lágrimas brilhavam como pérolas no rosto apático da garota.

Ela o puxou pra dentro e fechou a porta. O silêncio da noite parecia música diante da carga de sentimento que habitava Joanna naquele instante. E abraçando-se fortemente a ele, a garota deixou a tristeza escorrer aos poucos, em gotas suaves e salgadas, que lhe brotavam dos olhos.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Capítulo 04: http://loucurasredigidas.blogspot.com/2009/01/04-acontecimento-surpresa.html

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

(04) Acontecimento-surpresa

Naquele dia Joanna acordou um tanto assustada. Tivera um sonho ruim... Eram pessoas em meio a uma guerra, dentre eles, Richard. Porém, não estava sozinho, segurava no colo o corpo desfalecido de seu pai. Em seu sonho, seu irmão não apresentava mais claros olhos brilhantes, mas sim olhos chorosos e cansados. Os cabelos já não eram loiros e macios, e a pele já não era alva como a neve. Tudo parecia morto, seco, fúnebre.

Como não podia se demorar pensando naquilo, Joanna levantou um tanto atordoada e foi direto se vestir. Estava frio demais para pensar em tomar banho... Além de tudo, seu relógio já marcava algo perto das 8h, portanto, estava atrasada. Como não havia nada pra comer, saiu em jejum. E diferentemente do seu comportamento habitual, naquele dia ela não foi ao quarto de sua mãe para dar-lhe um beijo de bom dia.

Correu então até a livraria... A rua estava incomumente vazia naquela manhã, e as lojas estavam todas fechadas. Joanna estranhou o fato, mas preferiu abrir a livraria assim mesmo. Como não haviam clientes, começou a ensaiar algumas melodias no trompete. De vez em quando, o Hill ia até lá para ensaiarem, e chegaram até a tocar juntos pra alguns clientes.

Quase 2 horas se passaram, e ninguém apareceu... Resolveu então escrever ao Richard. O fato de não receber resposta alguma a intrigava muito. Talvez, as cartas enviadas por seu irmão tivessem com o endereço errado, e tenham retornado. Não queria pensar nisso, preferia pensar que suas cartas eram lidas com atenção, e certa dificuldade, por seu irmão em algum lugar.

“Richard,

Desculpe demorar tanto pra te escrever... É que as coisas estão difíceis pra mim. Estou trabalhando demais. Além de tudo, cuidar da mamãe piora um pouco as coisas. Ontem ela até estava melhor. Tinha nos lábios um sorriso pálido de dever cumprido, e me olhava como se sua consciência estivesse tranqüila. Às vezes penso em como seria se eu a perdesse, prefiro nem pensar, acho que enlouqueceria.

Estou ensaiando quase todos os dias com a clarineta, da próxima vez que nos virmos espero tocar pra você. Segundo o Hill, em pouco tempo estarei tocando bem o bastante para entrar no grupo de instrumentistas mulheres da divisão, mas não sei se estou pronta o bastante.

Por falar no Hill, nós estamos cada vez mais amigos Rich, na verdade, amigos demais. Esses dias ele acabou me beijando, e apesar de ter sido bom ele ficou rubro e foi embora. Talvez ele realmente goste de mim como a Nancy e a Sarah me dizem. Mas elas torcem pra que eu namore o Tom, já que somos amigos há bastante tempo. Não sei se namorar agora seria legal... Minha vida já está atribulada com as atividade que tenho e eu acho que...”

- Bom dia garota, por que abriu a livraria hoje? – Disse uma voz grave, que encheu a livraria e fez Joanna parar de escrever.

- Desculpe senhor, mas não entendo o porquê de não abri-la. – Respondeu a garota, timidamente.

- Acaso não sabes que dia é hoje? – Falou em tom bravio o soldado a sua frente.

- Desculpe-me senhor, é alguma data especial? Moro nessa cidade desde que nasci e não me lembro de ser data comemorativa. – Disse baixinho uma Joanna assustada, abraçando aos seus cadernos, devagar.

- Feche esse estabelecimento agora e vá para casa. Avise a todos os seus parentes para que não saiam. E isto é uma ordem. Qualquer pessoa nas ruas a partir das 14h será considerada como zombeteiro, e estará indo contra as leis do país. – Berrou heroicamente o soldado com seu olhar frio.

- Senhor, afinal, o que está havendo na cidade? Hoje é dia útil, não posso manter a livraria fechada e também...

- CALE A BOCA – Gritou o homem – Como ousa desobedecer às ordens do Exército? Escute aqui, garota atrevida, feche isso imediatamente e vá para casa. E não faça mais perguntas!


Os olhos frios do soldado haviam transformado-se em brasas ardentes a invadir a mente de Joanna. A garota não se conteve, e desabou no choro enquanto organizava tudo e se preparava pra fechar a loja. Seus pensamentos moviam-se intensamente entre lembranças de sua mãe acamada, seu irmão e seu pai, o Tom e o Hill, dentre outras coisas. Sentia medo, muito medo. Em gestos rápidos ela fechou a loja, segurando junto aos seios os cadernos onde escrevia suas cartas e poesias... E sem olhar pra trás ela correu para casa à longas passadas, deixando pra trás os homens dos olhos de brasa. Sua mente estava confusa, e Joanna temia que as coisas piorariam ainda mais.

“Por favor, ajude-me Richard... Onde quer que esteja, sei que pode me ouvir com seu coração.” – E as lágrimas rolavam amargas pelo rosto da garota. O medo era seu companheiro, e o desespero, seu capataz.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Para quem não acompanhou os outros capitulos, aí vai o link do capitulo anterior.
http://loucurasredigidas.blogspot.com/2008/12/03-realidade-viva.html

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"