terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Necessidade de mudança...

Será viver apenas cumprir com as necessidades básicas do qual o ser humano precisa? Respirar, comer, crescer, reproduzir... será isso o bastante?
Seres humanos dependem de infinitas coisas para manterem-se vivos. Atenção, reconhecimento, respeito... coisas fundamentais em qualquer forma de relacionamento. Estes, requerem equilíbrio para existirem de modo saudável... tal qual uma balança, se um dos lados pesa mais o equilíbrio deixa de existir, e alguém acaba carregando um peso maior.
Quando se acumula pequenas(ou grandes) quantidades de cargas oriundas de desequilíbrios costuma-se desabafar, ou chorar, ou entrar em depressão, ou isolar-se, ou ainda(em casos extremos de desequilíbrio consigo mesmo) tirar a própria vida.
Por sermos seres humanos e vivermos em sociedade, todos nós estamos sujeitos a termos relacionamentos que caem em desequilibrio. Porém, entra aí o fator emocional, que o leva, muitas vezes, a aceitar relacionamentos desequilibrados pelo fato de possuir bons sentimentos por aquele com o qual se relaciona.
Retornam aí os itens fundamentais pra uma relação: atenção, reconhecimento e respeito. Se há sentimento, mas não há respeito, não haverá equilíbrio, e assim por diante.
E as pessoas, muitas vezes, vivem assim por toda a vida... e aquele que guardar pra si mesmo essas pequenas(?) mágoas do dia-a-dia, pelo simples fato de não querer machucar quem gosta sendo realista, sofre mais do que deveria.
E essas mágoas vão se acumulando, até que um dia tentam sair... mas este as reprime novamente, e assim faz por toda a sua vida. Porém, aquele que não foi magoado continuará a agir do mesmo modo, porque é cômodo viver sem algo a cutucar-lhe a consciência. Entra aí outro fator fundamental em qualquer relacionamento: auto-crítica. Sem isso, o relacionamento fica desigual, injusto, e pesado demais pra um dos lados carregar sozinho.
E começam ações cada vez mais egoistas, dos dois lados. Vez ou outra, conversam e tentam colocar tudo isso um ao outro... mas quase sempre nenhum dos dois abre mão do próprio ponto de vista. E magoados e magoadores continuam existindo... até um dia cessar e deixar de existir.
Mas nossa consciência cobra mudança de cada um de nós... e é dessa necessidade de mudança que surgem muitas ações desesperadas, como o suicídio.
Desses desequilibrios surgem doenças fisicas, emocionais e psicologicas... e não há ninguém que nao desenvolva sua própria patologia. Vamos adoencendo mais com o passar dos anos, e nossa omissão só agrava o problema. Não há como mentir, o mundo não é uma colônia de férias. estamos aqui para apredermos a lidar com tudo isso, e tentar chegar até o final com o que tem, ainda que seja pouco, ou que tenha que chegar sozinho. Aquele que vive deixando somente os dias passarem já deixou de viver a muito tempo, porque morreu por dentro, porque o olho não brilha mais, porque ter a certeza de que quase não viveu... de que apenas existiu. E aí vem o arrependimento de não der dito, de não ter feito, de não ter vivido. E se amargura pensando na própria vida, e vendo que deixou muitas coisas pra trás. "E se eu tivesse feito o meu melhor?", "E se eu tivesse vivido cada momento como se fosse o último?"... Mas uma coisa é certa, o tempo que passou nunca mais voltará. E não há nova oportunidade de refazer a própria vida, é viver o aqui, é viver o agora, ou arrepender-se ao final por ter sido apenas mais um em sua própria vida.
O destino da vida é a morte. Ao respirarmos pela primeira vez fora do corpo de nossa mãe, começamos a envelhecer. E vamos existindo até que tenhamos envelhecido o bastante para morremos. Porque cada um tem seu tempo... e não importa quantos anos tenham se passado desde de que nasceu se nada mudou dentro de você. E o tempo nunca vai parar pra te esperar pensar no que fazer amanhã... porque planos não são feitos para serem cumpridos, e sim pra servirem de guia.
Planeje a cada dia ter o melhor dia de sua vida, e não terá simplesmente existido.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O único amigo...

Eu era um garoto magro, branco, com olhos castanhos e cabelos curtos. Nessa época eu tinha apenas 11, e acreditava piamente saber muito sobre a vida para alguém naquela idade. Talvez por isso era bastante popular, e tinha muitos colegas. Assim, eu escolhia como amigos só os que me favoreciam, e em troca trazia a eles parte da popularidade que eu tinha.
Eu tinha um amigo de infância, o Fernando. Ele era um garoto muito timido, sempre cabisbaixo, envergonhado. Ele era constantemente humilhado na escola por sem gordinho e ter uma condição financeira simples. E eu pouco fazia pra mudar aquela situação, pelo contrário, as vezes até ajudava a fazer piada do Fernando. Mas essa história não começa aqui...

Quando o conheci eu tinha apenas 3 anos. A família dele estava de mudança, ele seria meu vizinho. Esta é a lembrança mais antiga que tenho dele... ele desce do carro e tenta carregar algumas coisas pra dentro da casa enquanto eu brincava no jardim. Depois ele vem andando na minha direção com um chocolate na mão...
- Oi, você quer chocolate?
- Quero.
Então ele quebrou o chocolate, olhos para os dois pedaços e me deu o maior, depois riu e voltou correndo pra pegar algumas coisas leves que ele podia carregar.

Depois desse dia sempre brincávamos no quintal da minha casa. Nessa época, seu pai tinha um emprego muito bom e o Fernando sempre tinha brinquedos melhores que os meus. Além de tudo, ele era filho único, e eu tenho dois irmãos. Tudo lá em casa era dividido pra três, mas para o Fernando não, era só ele... integralmente ele.
Seu pai trabalhava como gerente em uma fábrica de eletrodomésticos, enquanto meu pai tinha uma padaria. Minha amizade com o Fernando começou muito rápido, não havia passado um mês que nos conhecemos e já íamos sempre na casa do outro. Particularmente, eu adorava ir à casa dele, a comida era muito melhor do que na minha, e lá sempre tinha alguma novidade... Além de tudo, o pai dele sempre trazia algo pra ele.

Nós fomos crescendo e a amizade continuou... com 6 anos viajei com a família dele pra praia. Fazíamos tudo juntos. Começamos a estudar juntos, passávamos o dia interinho grudados.
Eu adorava as coisas do Fernando... ele tinha um quarto super legal, era grande e cheio de brinquedos. Enquanto o meu era bem menor e, como tudo, dividido pra três. Era horrível dormir no mesmo quarto que meus irmãos, por isso, sempre que podia eu ia dormir na casa do Fernando.

Quando chegava o fim de semana, sempre íamos a sorveteria, ou a uma lanchonete... e ele sempre pagava. Uma vês por mês íamos ao parque, se eu não fosse ele também não ia. Ele me adorava!

Quando tinhamos 9 anos a fábrica onde seu pai trabalhava faliu e eles ficaram na miséria... Seu pai passou muito tempo desempregado, e eles tiveram que vender muitas coisas pra pagar as contas e a alimentação. Depois disso, o Fernando ia sempre almoçar lá em casa, mas nossa amizade foi só se perdendo... antes de completar 3 meses já não nos falávamos mais, a não ser que vissemos o outro na rua. Mas ir na casa dele? Nem pensar!

No ano seguinte não estudamos juntos, ele foi estudar em uma escolinha perto da nossa casa, já que agora não tinha mais dinheiro pra o transporte. Eu continuei na mesma escola, com os mesmos colegas e não vi mais o Fernando.

O ano se passou e eu mudei de escola... por coincidência eu e o Fernando ficamos na mesma sala, mas eu não falava com ele. Ele não era popular, não tinha mais dinheiro, além de tudo, ele era gordo. Pelo menos tirava boas notas. À medida que o tempo ia passando ele ia ficando mais e mais isolado, ninguém falava com ele! Ele nem era notado, era ele o grande mártir da rejeição.

Era uma quinta feira, chovia forte e cada um exibia belas roupas pra se proteger do frio e da chuva, enquanto o Fernando continuava sentado em seu lugar, com sua roupa simples e um semblante abatido. Já não havia mais espaço em seu caderno para mais desenhos... ele desenhava a aula toda. Eram desenhos muito bonitos e bem feitos, porém haviam alguns que ele não guardava no caderno... simplesmente destacava a folha e os guardava no bolso.
Naquele dia, os outros meninos da sala planejavam tirar dele esses desenhos, queriam saber o que era tão secreto a ponto de não poder ser revelado ou guardado em outro lugar que não no próprio bolso.
Terminada a aula, eles o seguiram e após se afastarem da escola o abordaram...
- Ei, Fernando! Você gosta de desenhar não é?
- É... gosto. Porquê? - perguntou ele timidamente.
- É que você passa a aula toda desenhando, e deixa os desenhos no caderno. Mas existem alguns desenhos que você arranca e guarda no bolso...
- Porquê estão me dizendo isso? - Perguntou Fernando, já bastante ofegante.
- Eu só quero que você me dê esses desenhos, aí a gente não te machuca. Certo?
- Não! Esses desenhos são meus... e eu não vou entregar pra ninguém.

E Fernando tentou correr, mas os garotos logo o pegaram. Enquanto uns seguravam braços e pernas outros reviravam-lhe os bolsos, tirando todos os papéis cuidadosamente dobrados.
Eu continuei de longe, escondido atrás de um carro olhando aqueles garotos baterem e tirarem do Fernando os papéis que eles não queria mostrar a ninguém.
Depois de baterem bastante nele e rirem do conteúdo dos desenhos o deixaram lá. Jogado no chão, molhado pela água que se acumulava em pequenas poças. Seu rosto estava inchado e seu nariz sangrava. Era desumano demais vê-lo ali e não fazer nada.

Saí correndo em direção a ele e o abracei. Em suas mãos estavam os papéis, agora um pouco molhados. Peguei um deles e olhei... éramos nós dois. Como antes. Brincando sentados na grama.
Então eu o abracei forte, e disse a ele que nunca mais deixaria que meu único amigo sofresse de novo. Porque pra ele minha amizade era a única coisa que importava. Dinheiro, conforto, popularidade... tudo isso é efêmero.

E desse dia em diante aprendi o que era amizade.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Antes que a velhice chegue...

Quero aprender a rir com a mesma inocência que ria antes, quero aprender a chorar quando quiser chorar, ou calar quando não houver nada pra dizer. Quero aprender a ser eu mesmo, e não esconder a tristeza atrás da máscara, quero ser honesto comigo, quero assumir que não posso viver sozinho. Porque quando meu corpo estiver velho e cansado, e minha respiração falhar no meio de cada palavra, que haja resignação no meu peito, que ainda haja brilho em meus olhos...
Quero aprender a não julgar sem conhecer, e a arriscar mais sem medo de errar. Quero aprender um modo de não deixar buraco na vida de ninguém quando eu não estiver mais aqui. Quero entender de onde vem o meu sadismo, de onde vem meu instinto de vingança, de onde vem meu orgulho, de onde vem minha tristeza. Quero aprender a dizer "não" sem magoar quem ouve. Quero me poupar mais, me ajudar mais. E cuidar melhor de mim, sem ter que matar algo em mim pra nutrir o sentimento do outro.
E quando a saudade aperta porque não chorar? Será que suas lágrimas causarão tanto estrago assim a ponto de serem evitadas a todo custo? Mas se a cada lágrima contida um rio de tristeza e amargura corre em suas veias, será mesmo certo se destruir pra conservar o outro?!
Além do limite da razão está o amor... mas o que é o amor?
Antes que a velhice chegue, que eu aprenda a viver, que eu aprenda a buscar ideais comuns à felicidade de mais pessoas além de mim, que haja orgulho nas falas dos que lembrarem de mim, que eu eu possa ser útil a alguém, de modo a torná-la melhor, e terei assim feito algo que mudou o mundo. Ainda que tenha sido um mundo.
Antes que a velhice chegue quero ter pra onde ir, quero não desviar rotas pela necessidade de atenção que a idade implica, quero não estar revoltado ou louco, ou ainda blasfemar palavras sem sentido pelo simples fato de não ter sido o que eu quis ser.
Se a vida me trouxe até onde estou hoje, terei de viver do mesmo modo... que viva então sem sofrer mais do que precisa, que viva sem rir mais do que precisa. Que haja paz!
Ninguém jamais encontrará o equilíbrio, porque este é perfeito, e se é perfeito nao pode ser humano. Mas, sabendo que não alcancerei plenamente o equilibrio, que eu possa chegar perto... que não hajam temores ou culpas à se resolver. Pra que eu possa assim descançar em paz.
E que antes que a velhice chegue, espero ter aprendido a viver.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A força...

Ela não tem cheiro, ela não tem cor, ela não tem forma, ela não tem sentimentos, ela não ri, ela não chora, ela não canta, ela não anda, ela não vive!
Mas ela mata, ela muda todos os destinos, ela age sobre você independente da sua vontade, ela lhe faz rir, lhe faz ver cores, lhe faz ver formas, provoca-lhe sentimentos, provoca-lhe risos, provoca-lhe choro, e te faz cantar, te faz andar, te faz viver.
Esta, que não tem nome, chamamos somente de força. Ela que muda cada destino sem nem pedir permissão, ela que enterlaça pensamentos pelo simples fato de ser. Ela. Quem é ela? Quem pensa que é pra fazer o que quer? De onde vem essa força?
Ela vem de nós, vem de nossa cultura, vem de nossos pensamentos, vem de nossa criatividade, vem de tudo que podemos imaginar, ainda que não tenha nome.
É a força da palavra, aquela que usamos a todo momento... em nossa cabeça tudo é dito, a quem pertence a voz que narra nossos pensamentos? A nós mesmos. Somos nós ultilizando a força da palavra. Essa força que salva, mas também mata.
Palavras, palavras... muito antes de existir alfabeto elas já existiam. Só não tinham nome, só não provocavam som. Mas o que fazer com as palavras?!
Quem tal fazer o melhor, porque essa força não tem dono, não tem grades, não tem medo. O medo está em nós, as grades estão em nós.
Inspire a força da palavra, e expire a primeira palavra que lhe vier à cabeça.
Mas lembre-se que ela não pertence a mim ou a você, ela simplesmente é.

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"