terça-feira, 28 de outubro de 2008

Da verdade das coisas...

Ouvi dizer certa vez que a verdade do mundo está naquilo que não se pode ver.
“O essencial é invisível aos olhos”, disse-me com segurança um velho amigo que há tempos não vejo. Mas como posso seguir, sabendo que a essência do mundo é uma mera abstração? Como posso trilhar o bom caminho sabendo que não poderei tocar, sentir, entender, apenas almejar? Oh Céus, talvez o mundo não tenha sido feito para o homem... Seremos nós, também, uma mera abstração do mundo real que nos cerca?
Não posso crer no homem como mera passagem, somos, então, a sombra da verdade, e não a verdade em si.
Da janela posso ver o mar, posso ver a infinidade de vidas que se cruzam sem notar, sem saber, sem ao menos pensar. Aos poucos, meus pés vão deixando marcar na areia, e as ondas começam a molhar-me os pés. Sob as águas do mar, que é pra onda levar, toda a leva de dor, e algo mais que ficou... E o vento passa, soprando-me a realidade dos fatos, somos apenas a distorção do real. Até mesmo os pássaros que cantam para o mar, a paisagem da flor na janela. Da solidão dos cacos do meu quarto fizeram-se as sombras sobre mim... Temi, acreditei por um minuto que aí estivesse a verdade das coisas. Não poderia, me desfiz daqueles pensamentos. A essência do mundo está por todos os lugares, e se os olhos humanos não fossem tão turvos e cheios de orgulho, talvez pudéssemos sentir.
Senhor, explicai-me: porquê estamos aqui? Por quê tantas vozes, esses gritos de sofrimento, tanto choro, as rezas, as lamentações. Explicai, por favor, de onde vem a verdade do mundo? Estará dentro de nós? Estará na natureza, na simetria das coisas, na singularidade de cada ser? De quem são essas mãos que tocam, que curam as chagas, que manuseiam delicadamente os instrumentos a obliterar-me os sentidos? Escutai Senhor, escutai meu lamento. Explica-me, eu preciso saber. Poderei eu, humano, conhecer a verdade das coisas?
Caminho contra o sol, a luz me faz bem. Ainda posso ouvir a música, é leve, mas pulsante. O vento sopra-me a face, e afaga-me os cabelos. Já não posso ver, sinto-me parte da luz... Continuo a caminhar, um passo diante do sol, um dia na sombra de Deus...

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"