terça-feira, 6 de janeiro de 2009

(04) Acontecimento-surpresa

Naquele dia Joanna acordou um tanto assustada. Tivera um sonho ruim... Eram pessoas em meio a uma guerra, dentre eles, Richard. Porém, não estava sozinho, segurava no colo o corpo desfalecido de seu pai. Em seu sonho, seu irmão não apresentava mais claros olhos brilhantes, mas sim olhos chorosos e cansados. Os cabelos já não eram loiros e macios, e a pele já não era alva como a neve. Tudo parecia morto, seco, fúnebre.

Como não podia se demorar pensando naquilo, Joanna levantou um tanto atordoada e foi direto se vestir. Estava frio demais para pensar em tomar banho... Além de tudo, seu relógio já marcava algo perto das 8h, portanto, estava atrasada. Como não havia nada pra comer, saiu em jejum. E diferentemente do seu comportamento habitual, naquele dia ela não foi ao quarto de sua mãe para dar-lhe um beijo de bom dia.

Correu então até a livraria... A rua estava incomumente vazia naquela manhã, e as lojas estavam todas fechadas. Joanna estranhou o fato, mas preferiu abrir a livraria assim mesmo. Como não haviam clientes, começou a ensaiar algumas melodias no trompete. De vez em quando, o Hill ia até lá para ensaiarem, e chegaram até a tocar juntos pra alguns clientes.

Quase 2 horas se passaram, e ninguém apareceu... Resolveu então escrever ao Richard. O fato de não receber resposta alguma a intrigava muito. Talvez, as cartas enviadas por seu irmão tivessem com o endereço errado, e tenham retornado. Não queria pensar nisso, preferia pensar que suas cartas eram lidas com atenção, e certa dificuldade, por seu irmão em algum lugar.

“Richard,

Desculpe demorar tanto pra te escrever... É que as coisas estão difíceis pra mim. Estou trabalhando demais. Além de tudo, cuidar da mamãe piora um pouco as coisas. Ontem ela até estava melhor. Tinha nos lábios um sorriso pálido de dever cumprido, e me olhava como se sua consciência estivesse tranqüila. Às vezes penso em como seria se eu a perdesse, prefiro nem pensar, acho que enlouqueceria.

Estou ensaiando quase todos os dias com a clarineta, da próxima vez que nos virmos espero tocar pra você. Segundo o Hill, em pouco tempo estarei tocando bem o bastante para entrar no grupo de instrumentistas mulheres da divisão, mas não sei se estou pronta o bastante.

Por falar no Hill, nós estamos cada vez mais amigos Rich, na verdade, amigos demais. Esses dias ele acabou me beijando, e apesar de ter sido bom ele ficou rubro e foi embora. Talvez ele realmente goste de mim como a Nancy e a Sarah me dizem. Mas elas torcem pra que eu namore o Tom, já que somos amigos há bastante tempo. Não sei se namorar agora seria legal... Minha vida já está atribulada com as atividade que tenho e eu acho que...”

- Bom dia garota, por que abriu a livraria hoje? – Disse uma voz grave, que encheu a livraria e fez Joanna parar de escrever.

- Desculpe senhor, mas não entendo o porquê de não abri-la. – Respondeu a garota, timidamente.

- Acaso não sabes que dia é hoje? – Falou em tom bravio o soldado a sua frente.

- Desculpe-me senhor, é alguma data especial? Moro nessa cidade desde que nasci e não me lembro de ser data comemorativa. – Disse baixinho uma Joanna assustada, abraçando aos seus cadernos, devagar.

- Feche esse estabelecimento agora e vá para casa. Avise a todos os seus parentes para que não saiam. E isto é uma ordem. Qualquer pessoa nas ruas a partir das 14h será considerada como zombeteiro, e estará indo contra as leis do país. – Berrou heroicamente o soldado com seu olhar frio.

- Senhor, afinal, o que está havendo na cidade? Hoje é dia útil, não posso manter a livraria fechada e também...

- CALE A BOCA – Gritou o homem – Como ousa desobedecer às ordens do Exército? Escute aqui, garota atrevida, feche isso imediatamente e vá para casa. E não faça mais perguntas!


Os olhos frios do soldado haviam transformado-se em brasas ardentes a invadir a mente de Joanna. A garota não se conteve, e desabou no choro enquanto organizava tudo e se preparava pra fechar a loja. Seus pensamentos moviam-se intensamente entre lembranças de sua mãe acamada, seu irmão e seu pai, o Tom e o Hill, dentre outras coisas. Sentia medo, muito medo. Em gestos rápidos ela fechou a loja, segurando junto aos seios os cadernos onde escrevia suas cartas e poesias... E sem olhar pra trás ela correu para casa à longas passadas, deixando pra trás os homens dos olhos de brasa. Sua mente estava confusa, e Joanna temia que as coisas piorariam ainda mais.

“Por favor, ajude-me Richard... Onde quer que esteja, sei que pode me ouvir com seu coração.” – E as lágrimas rolavam amargas pelo rosto da garota. O medo era seu companheiro, e o desespero, seu capataz.


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Para quem não acompanhou os outros capitulos, aí vai o link do capitulo anterior.
http://loucurasredigidas.blogspot.com/2008/12/03-realidade-viva.html

11 Comments:

Rodrigues, K. said...

Nossaaaa, seus textos são de puro brilhantismo, ahh eu quero a continuação e logo logo. Belo demais, ao ler, pude sentir o que a Joanna sentia ao esvrever as cartas. Você está de parabéns, conseguiu colocar sentimento em cada linha, cada palavra. Adorei!

beijo.

Marcela said...

maarco, eu estou adorando essa estória *-*
espero pelõ capítulo 05..
baci!

Fernanda said...

Joanna, será o nome da minha segunda filha.


E, eu gostei do conto! :)

Beijos acenourados!

:: rita :: said...

... agradeço sua visita no meu blog!

=)

uma pergutinha (inha):
na imagem do seu blog... é vc na foto? puraaaaaa curiosidade! achei legal!

[dias de paz]

Julio Melo said...

vc escreve dmais rapah
parabns

Haya said...

Akio!!! Sou sua fã, na boa!
Beijos.

Julio Melo said...

valeu o coment, quando eu tiver tempo eu lhe leio, hehe
abs

Heduardo Kiesse said...

aqui temos romancista e poetiza!!
beijos

Camila said...

Uau, que maneira especial de escrever você possui. É suave mas intenso e verdadeiro.
Acreditei em sua história, melhor... de Joanna.
Um beijo

Ps. sou a Cah do msn do Tripé.

Thiago said...

Marcão..vou esperar a outra parte e vou lendo. gosto de comentar um conto inteiro pelo fato de não saber o que estar por vir...então... espero a parte 5, será ela final? hehehehe

Haya said...

Amado... demorou né!

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"