sábado, 15 de março de 2008

A história de Luiza...

Era uma quarta-feira, chovia muito e o vento invadia todos os lugares, esfriando ainda mais a cidade. Quando chovia ninguém saía de casa, todos corriam para se aquecer de alguma forma e no conforto de seus lares dormiam um ótimo sono em suas camas macias e quentes.
Porém, para Luiza sempre fôra diferente. Não existe conforto algum nas marquizes, e não há maciez alguma nos poucos trapos que ela carregava. Além de tudo, os papelões que cobriam o chão não isolavam-a do frio. Mas isso não era o que mais a fazia sofrer. Pior era o frio que sentia por dentro. Sem amigos, sem família, sem atenção. A solidão era, por si só, o bastante para que ela fosse triste. Mas ainda assim, Luiza não era de se lamentar.
Às vezes, ela queria ser grande o bastante para conseguir um emprego. Com a pouca idade que tinha ninguém a queria, e o único orfanato da cidade só aceitava crianças deixadas pelos pais, ou algum familiar. Mas o que faria? Fôra abandonada por seus pais com pouco mais de 3 anos, a única lembrança que tinha era da voz de seu pai. Nunca mais ouvira aquela voz. Não tinha nenhuma foto ou algo que a ajudasse a lembrar dos rostos daquelas que a puseram no mundo. Às vezes sonhava com pessoas que chegavam e a abraçavam, e chavam-a de filha, desculpando-se por todo o sofrimento que havia passado. Mas logo acordava e via que estava tão só quando na noite anterior, e voltava-se para o seu mundo... Mundo este onde sobreviver é o objetivo, onde não se medem esforços para manter-se vivo.
Tudo que Luiza sabia havia aprendido na rua. Inclusive, que aqueles que estão na rua fazem parte da estrutura social da qual fazemos partes. Ou seja, em qualquer cidade do mundo haverão pessoas com muitos bens, e outras com apenas a própria vida. Isso está pré-determinado. Para que haja riqueza deve haver pobreza.
Luiza via constantemente outras garotas de sua idade na rua voltando da escola, entrando e saindo de lojas, entrando e saindo de lachonetes. E ela se sentia bem com aquilo, via que aquelas crianças eram felizes. Como pode, ela vivia em tão precária situação, mas não sentia inveja daquelas crianças. E quando sentia-se muito triste ela se sentava e imaginava-se em uma vida mais tranquila, indo a escola, almoçando com seus irmãos e pais, assistindo televisão vestida com um pijama comprido, indo ao parque toda arrumada em um domingo bem bonito. E com isso ela sorria, e percebia que cada um tem o que precisa pra viver. E que s ela tinha tão pouco é porquê podia sobreviver com aquilo. Talvez uma daquelas outras crianças não aguentariam a vida que ela levava, talvez ela não aguentasse a vida que eles levavam...
Assim vivia Luiza, sempre pensando em continuar vivendo, sempre pensando em crescer e ser feliz. Esta é apenas mais uma criança abandonada, mais um fruto torto da desigualdade social.
Para quem tão pouco, qualquer pequeno gesto tem grande dimensão... Um sorriso de alguém que somente passou por ela por valer-lhe o dia. Porque precisamos de muito mais do que comida e água pra viver. E quantas Luizas não existem no mundo esperando apenas um sorriso de você que passa na rua...
Dentro da construção social em que vivemos somos causa e consequência o tempo todo, somos todos responsáveis pelos os acertos e erros da sociedade, somos todos um.

2 Comments:

Cidadão Solitário. said...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lua Durand said...

Luiza, o importante, é que de tão pouco que tivera tirara lição preciosa.

de crescer, viver, e ser feliz.

as vezes a gente tem que perder para aprender a dar valor.

é aquele velho ditado.

-

saudade das nossas conversas!

espero que esteja tudo bem com você;

saudades suas.

beijos. au revoir.

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"