domingo, 9 de março de 2008

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Eu nunca me atrasava pra pegar o ônibus... Todos os dias, às 7h, o ônibus passava. Ele sempre chegava às 6:58h, e saía às 7h. Eu sempre acordava muito cedo, me arrumava e andava calmamente até o ponto. Chegava sempre com 15 minutos de antecedência, sentava-me, abria meu livro, lia pouco mais de 3 páginas, marcava a folha, guardava-o na mochila novamente e entrava no ônibus. 35 minutos separavam meu ponto da escola. Eu sempre ia em pé por quase 18 minutos, depois desciam muitos alunos de uma grande escola e eu podia me sentar. Então passava mais 17 minutos sentado lendo até que algum outro aluno tocasse o sinal e descessemos do ônibus. Era assim, sempre.
Mas naquele dia tudo fora diferente. Lembro-me que na noite anterior meu pai pediu-me pra não dormir tão tarde. Mas eu estava acostumado a acordar todos os dias no mesmo horário, ainda que dormisse um pouco mais tarde. Quando acordei, o relógio marcava 6:50h, percebi então que chovia muito forte, talvez por isso tivesse acordado mais tarde. Arrumei-me correndo, peguei a mochila e corri pro ponto. Mas no meio do caminho o ziper da mochila abriu e meus papéis espalharam-se pelo chão molhado. Coloquei-os de qualquer jeito e continuei correndo. Estava quase chegando no ponto quando vejo o ônibus se afastando. Ainda tentei correr, mas ele não parou. Sentei então em um dos bancos. Eu estava bastante molhado, mas naquele momento mal me importei com isso. Olhei no relógio do letreiro eletrônico da praça, eram 7:04h. Eu estava desolado, arrasado, molhado, e pior, atrasado. Se havia algo que detestava era atraso. Os minutos custaram a passar... Pensei em milhões de coisas e olhei de novo o relógio, 7:09h. Tentei me entreter com o modo como a água corria de cima do telhado pro chão. Tentei me entreter com as acrobacias que as pessoas faziam procurando um lugar pra se proteger da chuva. Tentei me entreter com a bolinha vermelha do gorro de uma criança no colo de uma senhora do meu lado. Nada deu jeito.
A senhora ao meu lado começou então a conversar comigo. Falamos basicamente sobre a chuva. Sobre as pessoas que nao tinham casa pra se abrigar, sobre os agricultores que tanto esperaram por aquela chuva, sobre as enchentes decorrentes da falta de estrutura pra receber toda aquela água, etc. Olhei novamente no relógio da praça, eram 7:28h. Um outro ônibus estava vindo pro ponto, era o meu. Levantei e despedi-me da senhora com o menino no colo. E antes que eu entrasse no ônibus ela me disse: Não tenha pressa meu garoto, talvez hoje não seja o seu dia. E é nesses dias que devemos tem mais calma, pressa só o fará atrapalhar mais ainda seu atrapalhado dia.
Ouvi o que a senhora disse sem dar muita importância e entrei no ônibus, ele estava um pouco cheio, por isso me sentei em uma das cadeiras da frente. Abri minha mochila, havia esquecido o livro em cima da mesa de cabeceira na noite anterior, na pressa de sair e não me atrasar não o peguei. Fiquei então pensando no que a senhora havia me tido... Não havia realmente entendido o significado das palavras. Destraí-me com isso até chegar próximo o meu ponto. Levantei-me então para pagar a passagem. Coloquei a mão nos bolsos, tal qual o livro, havia me esquecido de pegar o dinheiro da passagem devido a pressa. Olhei para os lados, estava desesperado. Estranhamente, não havia ninguém conhecido no ônibus.
Falei então com o cobrador do ônibus, expliquei a ele minha situação, faltavam apenas dois pontos pra chegar a escola. Ele me disse que eu deveria descer no ponto em que o ônibus havia parado, e que não fizesse mais isso. Como desci pela frente, todos olharam pra mim. Corri então em direção à escola, mas como já estava muito atrasado continuei o trajeto andando. Ao chegar deparei-me com o portão fechado. Chamei, bati palma, gritei, e nada. Ninguém apareceu...
Resolvi então ir perguntar ao moço da padaria em frente à escola. Atravessei a rua, entrei na padaria e dei de cara com um garoto da escola. Ele estava vestido informalmente, então perguntei: Porque não foi à aula?
E ele me respondeu: Ué, porque hoje é sábado, não tem aula. - E saiu em direção a sua casa.

Andei então até uma pequena praça que havia perto e me sentei em um banco de madeira. Lembrei-me então do que a senhora havia me dito... De tão ridículo, fora até engraçado ter passado por tudo aquilo. É, às vezes não é mesmo nosso dia...

1 Comment:

Anônimo said...

Heeheheheheheh

Realmente, tem dias que parecemos aqueles paitnhos enfileirados dos parques de diversões.

Muito bom!
Deu vontade de ler mais.

Abraço.

Momentos...

Momentos...
"Mas aqueles anjos agora já se foram, depois que eu cresci"